domingo, 27 de janeiro de 2013

Veja depoimentos de sobreviventes de incêndio em boate no RS



Fogo começou por volta de 2h30 de domingo (27) e matou pelo menos 232.

Boate recebia festa de estudantes da Universidade Federal de Santa Maria.

Do G1, em São Paulo

Efeitos pirotécnicos, faíscas, fumaça, corre-corre, desespero e centenas de feridos e mortos espalhados. Esses são os relatos de testemunhas que sobreviveram à tragédia na boate Kiss, em Santa Maria (RS), que deixou mais de 230 mortos e pelo menos 131 feridos. Segundo informações preliminares, o fogo teria começado por volta das 2h30, depois que o vocalista da banda que se apresentava ter feito uma espécie de show pirotécnico, usando sinalizador. As faíscas teriam atingido a espuma do isolamento acústico no teto da boate e iniciado o fogo, que se espalhou em poucos minutos. O incêndio provocou pânico entre os presentes, e muitas pessoas não conseguiram acessar a saída de emergência.

Músicos dão relato
"A gente saiu mal, no meio da fumaça, tive dor no peito. Fiquei aguardando para podermos nos achar, para ver quem tinha saído. Fomos nos encontrando aos poucos e ficamos na expectativa de achar o Danilo, mas ele não apareceu."
(Eliel de Lima, de 31 anos, baterista da banda Gurizada Fandangueira, que tocava na boate Kiss na hora do incêndio. O sanfoneiro Danilo Jaques, o mais jovem do grupo, morreu).
Banda Gurizada Fandangueira, que tocava na hora do incêndio em Santa Maria, teve um integrante entre os mortos: o sanfoneiro Danilo Jaques, que aparece acima de camisa azul e blazer preto (Foto: Arquivo pessoal)Banda Gurizada Fandangueira, que tocava na hora do incêndio em Santa Maria, teve um integrante entre os mortos: o sanfoneiro Danilo Jaques, que aparece acima de camisa azul e blazer preto (Foto: Arquivo pessoal)
"Conseguimos sair logo no início pela porta que tinha um metro e meio de largura. Só conseguíamos enxergar 5 centímetros à frente por causa da fumaça preta."
(Valderson Wottrich, líder da banda Pimenta e seus Comparsas, que tocava na boate Kiss antes do incêndio, disse que dois dos quatro membros do grupo ainda estão desaparecidos).

Gente só de calcinha e cueca
“Eu liguei para os bombeiros, algumas pessoas tentaram voltar para pegar mais gente lá dentro, mas tinha fumaça e não dava para enxergar mais ninguém, era uma cortina de fumaça. A gente puxava as pessoas pelo cabelo, pela roupa, muita gente saía só de calcinha e cueca, muitas sem camiseta, talvez para se proteger da fumaça, e os bombeiros chegaram rápido e começaram a organizar e usar a mangueira”.
(Murilo de Toledo Tiecher, de 26 anos, estudante de medicina e um dos primeiros a sair da boate, quando o incêndio começou. Ele conta que, inicialmente, seguranças tentaram impedir a saída dos clientes, mas logo perceberam a fumaça e liberaram a saída. Tiecher diz também que a saída foi dificultada por uma grade colocada perto da porta para organizar a fila de entrada).
Salva pela área VIP
“Vi umas faíscas, mas achei que eram apenas os foguinhos da luva [do integrante da babda]. Vi uma gritaria, achei que fosse alguma briga. Foi quando gritaram ‘fogo’, vi as pessoas correndo, vi a fumaça, e saí correndo.”
(Fernanda Freire Gomes Bona, de 23 anos, fotógrafa oficial da boate, estava em uma área VIP próxima à saídaquando o incêndio começou. O local tinha uma vista privilegiada da boate, permitindo não apenas que ela tirasse fotos, mas também que percebesse rapidamente o incêndio e escapasse do local em poucos minutos).

'Queriam as comandas'
“Dei sorte, estava perto da saída quando vi que começou o incêndio. Mesmo assim, os seguranças trancaram porque queriam as comandas. Eles abriram, mas ficou mais ou menos um minuto e meio trancado.”
(Jonathas Castilhos, um dos primeiros a deixar a boate Kiss e que ajudou a socorrer amigos e desconhecidos que necessitavam de atendimento).
Engatinhando com pessoas passando por cima
“Quando soltaram o primeiro fogo, saí de perto do palco. Cheguei perto dos banheiros e todo mundo correu para perto da porta de saída, e os seguranças trancaram. Eu estava espremida na parede e só consegui escapar porque me puxaram. Fui engatinhando até a saída, com pessoas passando por cima. Estou com muita ardência na garganta e nos olhos por causa da fumaça.”
(Shelen Rossi, de 19 anos, que teve alta do hospital na manhã deste domingo, mas aindasente no corpo os efeitos do ar inalado do incêndio).
Perto da porta de saída
"Nós estávamos em um local perto da porta de saída, então foi mais fácil para a gente poder sair, mas era um corre-corre, todo mundo empurrando, pessoal caindo no chão. [Foi mais fácil sair] só pelo fato de estarmos perto da porta de saída, ali num local que era mais próximo. Quem estava próximo ao palco, do outro lado, não teve condições de sair."
(Taynne Vendrúsculo, estudante, que viu a fumaça se espalhar de forma tão rápida que apenas quem conseguiu deixar a boate nos primeiros minutos se salvou).

'Saí arrastada pelo chão'
"Nós olhamos para o teto lá na frente do palco e estava começando um fogo. Foi um amigo nosso que nos mostrou, aí nós começamos a cair. Minha irmã me puxou e eu saí arrastada pelo chão."
(Luana Santos Silva, de 23 anos, estudante, que disse que o fogo se alastrou rapidamente pelo interior da boate.
'Filme de terror'
"A gente pediu para as vítimas saírem, tinha bastante gente ali. No meio do tumulto, [elas] começaram a se pisotear, teve gente que não teve tempo de sair. A gente conseguiu resgatar algumas pessoas, mas algumas pessoas tiveram 80% do corpo queimado, não resistiram... teve colega nosso de trabalho que faleceu. [Situação de pânico] total. Só quem estava ali, viu. Filme de terror".
(Rodrigoum dos seguranças da boate Kiss, que contou que o fogo começou por conta de um efeito pirotécnico usado pela banda que se apresentava).


Salvo pela praia
"Só tenho que agradecer, porque meu filho era um frequentador assíduo da Kiss. Graças a Deus ele pediu para trazê-lo pra praia".
(Paulo Roberto Weber, representante comercial, que viajou na quinta-feira (24) para Florianópolis com o filho Lucas Machado Weber, estudante de direito da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Eles perderam pelo menos cinco amigos próximos na tragédia)

“Vi pessoas se escondendo dentro de freezers”, diz sobrevivente de incêndio


“Perdi forças porque vi gente pendurada em grades, empilhadas umas por cima das outras”


iG São Paulo 
Um dos sobreviventes do incêndio que matou 232 pessoas na boate Kiss, na cidade de Santa Maria (RS), o personal training Ezequiel Real, usou sua página do Facebook para contar em detalhes como se salvou da morte. De acordo com ele, foi preciso pisotear pessoas desmaiadas e ver pessoas se escondendo dentro de freezers antes de alcançar a saía e mais tarde voltar para tentar socorrer sobreviventes.
“Acompanhei o início do fogo que veio das faíscas do sparkles e se propagou pelo teto nas esponjas do isolamento acústico”, disse. “Não me apavorei porque não achei que poderia lidar com a situação, mas vi muita gente entrar em pânico, cair e desmaiar umas por cima das outras”.
Foto do resgaste de sobrevivente do incêndio que matou mais de 200 pessoas na boate Kiss, que sofreu um incêndio na madrugada deste domingo. Foto: Ricardo Giusti/O Dia
2/19
Ele conta que viu “muita gente em crise” acessando a porta mais próxima, “que era a do banheiro e se alojaram lá dentro. Vi pessoal que trabalhava se escondendo até dentro de freezers! Quando vi que não tinha mais jeito de sair pela saída principal, dei a volta na área Vip e sai pela lateral empurrando e pisando por cima de muita gente, acredito que não sairia se não fosse pela força que utilizei para passar pelas pessoas”.
Ele disse que só ao sair percebeu “que pisava e cruzava por cima de mulheres e homens desmaiados”. “Não vi alarme soando, só gritos. Não vi luz de saída, só fumaça. Quando saí, me passou pela cabeça as pessoas que passei por cima e voltei para retirá-las pois não aguentava escutar berros, ver policias e bombeiros sem dar conta, porque tinha muita gente empilhada. Quando entrei tinha que escolher quem salvar”.
Real conta que não havia saída para a fumaça e, por isso, quem estava envolvido no salvamento começou “a abrir um buraco na parede, arrancar madeiras, grades, janelas”.

“Ao abrir o buraco na parede, um bombeiro me convidou para entrar porque sozinho não conseguiria tirar as pessoas. Entrei e pela primeira vez vi a morte pessoalmente”.
Ele afirma que “logo um enfermeiro pediu para sair lá de dentro, pois tinha risco de desabar. Não acreditei, e ele me mostrou que todos que saiam daí para frente estavam mortos”.
“No primeiro momento em que liguei e foquei a luz na área vip, vi muitos corpos, não sabia mais o que fazer, perdi forças porque vi gente pendurada em grades, vi pessoas empilhadas uma por cima das outras e não era uma ou duas dezenas, era muita gente”, disse. “Imagem que nunca apagarei da minha cabeça, não tive força física para ficar ali e tive que sair derrotado de dentro daquele buraco”.

“Ficamos com medo de linchamento”, diz guitarrista da banda que tocava em boate


Sinalizador ateou fogo no teto da casa noturna, provocando a morte de 232 pessoas


iG São Paulo
O Guitarrista da banda Gurizada Fandangueira, Rodrigo Martins, afirmou em entrevista à Rádio Gaúcha que a banda está com medo de sofrer linchamento em Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul. Eles temem serem responsabilizados pelas 232 mortes no incêndio provocado por um sinalizador usado pela banda no show, que queimou o teto da casa noturna Kiss na madrugada deste domingo.
Reprodução/Facebookdjbolinhasm
Dj Bolinha postou esta foto no Facebook antes do acidente. De acordo com testemunhas, os fogos de artifícios usados pela banda Gurizada Fandangueira provocaram o incêndio
“Ficamos com medo de linchamento”, disse ele ao ser questionado sobre a reação da população.
Ele afirmou que essa responsabilização é injusta porque ninguém na banda teria a intenção de provocar o acidente, que vitimou o sanfoneiro do grupo, Danilo Jaques“O baterista tentou ajudar. Ele se soltou da gaita [sanfona]. Alguns dizem que ele voltou para pegar a gaita e não foi mais visto”, afirmou Martins.De acordo com ele, os rodies da banda (ajudantes de palco) eram os responsáveis pelo uso dos sinalizadores em seus shows.Ele concluiu a entrevista afirmando que os seguranças da casa noturna impediram a saída de algumas pessoas acreditando que a razão fosse alguma briga no interior da boate.“Mas eles foram atropelados pelas pessoas que precisavam sair”, concluiu.Mais: Prefeitura de Santa Maria decreta luto oficial de 30 dias Tragédia de Santa Maria é destaque na imprensa internacional InvestigaçãoSegundo testemunhas, a casa não teria saídas de emergência suficientes. Segundo a Polícia Civil de Santa Maria, o local possui uma única saída de acesso. No entanto, ainda é cedo para confirmar as denúncias.O caso foi registrado no 1º DP, de Santa Maria, que irá investigar a apontar os culpados no caso. Uma delegada chegou a comentar as denúncias em entrevista à Rádio Gaucha. Segundo a policial, um dos proprietários da boate Kiss se apresentou ao DP e iria ser ouvido. "Somente após os depoimentos poderemos questionar essas informações", disse.

Estudante paraguaio é uma das vítimas do incêndio em boate no RS


DE SÃO PAULO
O estudante paraguaio Guido Ramon Britez Burro é uma das 233 pessoas que morreram em consequência do incêndio que atingiu a boate Kiss, em Santa Maria (RS), na madrugada deste domingo.

Segundo a UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), o jovem tinha 21 anos e cursava zootecnia.
A boate Kiss era uma das principais casas noturnas de Santa Maria e famosa por receber estudantes universitários.
Editoria de Arte/Folhapress
A festa "Agromerados" ocorria desde as 23h do sábado (26) e foi organizada por estudantes dos cursos de agronomia, medicina veterinária, zootecnia, técnico em agro negocio, técnico em alimentos e pedagogia da UFMS (Universidade Federal de Santa Maria). A classificação etária do evento era de 18 anos.
Para a festa foram contratados as bandas Gurizada Fandangueira (que estava no palco quando o fogo começou), Pimenta e seus Comparsas, além dos DJs Bolinha, Sandro Cidade e Juliano Paim.
Um dos integrantes da banda que se apresentava no local teria acendido um sinalizador, que atingiu o teto, e o fogo se espalhou rapidamente.
Os feridos foram levados para diferentes hospitais. De acordo com o governo, 106 pessoas foram hospitalizadas.

Incêndio em casa noturna no RS

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Nabor Goulart/Associated Press
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Corpos de vítimas de incêndio em boate começam a ser velados