domingo, 27 de abril de 2014

Veja imagens da canonização de João Paulo II e João XXIII



  • Imagens de João Paulo II e João XXIII na Basília de São Pedro.
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Imagens de João Paulo II e João XXIII na Basília de São Pedro.

João XXIII, o 'Papa bom', preparou a Igreja Católica para os novos tempos

Italiano Angelo Giuseppe Roncalli será canonizado neste domingo (27).
Comprovação de segundo milagre foi dispensada pelo Papa Francisco.

Do G1, em São Paulo
Foto de 25 de janeiro de 1959, mostra o Papa João XXIII em trono na Basílica de São Paulo, em Roma (Foto: Arquivo/AP)Foto de 25 de janeiro de 1959, mostra o Papa João XXIII em trono na Basílica de São Paulo, em Roma (Foto: Arquivo/AP)

Responsável por convocar o Concílio Vaticano II, que modernizou a Igreja Católica, e conhecido como o “Papa bom”, o italiano Angelo Giuseppe Roncalli, o Papa João XXIII, será canonizado neste domingo (27) no Vaticano, tendo apenas um milagre comprovado e aprovado pela Santa Sé, algo não muito frequente nas últimas décadas. A decisão foi tomada pelo Papa Francisco, devido às virtudes e personalidade conhecidas de João XXIII.
João XXIII pontificou entre 1958 e 1963. Pertencente à Ordem Franciscana Secular, ele teve como lema principal de seu pontificado e também de sua vida a obediência e a paz. O papa italiano era conhecido por ser uma pessoa simples, um grande pastor capaz de dar bons rumos para a Igreja.
O Concílio Vaticano II, apontado como uma das grandes realizações de João XXIII, é considerado o momento preparador da Igreja Católica para o século XXI e foi convocado por ele apenas dois meses após o ínicio de seu pontificado.
Bispos de todo o mundo foram chamados mundo para promover a adaptação da Igreja aos novos tempos e a decidir a forma de transmitir a mensagem de Deus com uma linguagem mais compreensível para todos.
As decisões mudaram a forma com que os católicos se relacionavam com a Igreja, como a adaptação da liturgia, o que deu espaço para que depois fossem celebradas nas línguas vernáculas em vez do latim.
Seu processo de canonização foi iniciado em 1965, mas a beatificação – passo anterior que demanda a comprovação de um milagre – só ocorreu em setembro de 2000, pelas mãos de João Paulo II.
Sua nomeação como beato aconteceu depois de ser reconhecida a milagrosa cura da religiosa italiana Caterina Capitano, que esteve a ponto de morrer por uma peritonite aguda e que, segundo ela, após pedir a João XXIII, conseguiu sobreviver.
Em 5 de julho de 2013, o Papa Francisco assinou o decreto que autoriza a santificação de João XXIII. Neste caso, será um processo singular, pois Francisco elevará João XXIII aos altares de santo apesar do não cumprimento do requisito de um segundo milagre, como era até agora exigido pela Igreja.
Coincidentemente, João XXIII será canonizado na mesma cerimônia que também tornará santo João Paulo II - cuja santidade será reconhecida apenas nove anos após sua morte.
Vida e pontificado
Angelo Giuseppe Roncalli nasceu no dia 25 de novembro de 1881 em Sotto il Monte, na região de Bergamo, na Itália. Ele foi o quarto de 13 irmãos de uma família de camponeses. Sua família era tradicionalmente religiosa - ele foi batizado no dia de seu nascimento - e um de seus tios foi o responsável por encaminhá-lo para a vida católica.
Foto de arquivo de 15 de abril de 1963, mostra o Papa João XXIII em sua biblioteca particular, no Vaticano (Foto: Luigi Felici/AP)Foto de arquivo de 15 de abril de 1963, mostra o
Papa João XXIII em sua biblioteca particular, no
Vaticano (Foto: Luigi Felici/AP)
Ele entrou no seminário aos 11 anos, em 1892, onde começou a praticar a redigir seus escritos espirituais – prática que manteve consigo até sua morte. Em 1896 ele foi admitido na Ordem Franciscana Secular.
Entre 1901 e 1905 Roncalli foi aluno do Pontifício Seminário Romano, após conseguir uma bolsa de estudos da diocese de Bergamo - nesse período, ainda cumpriu um ano de serviço militar. Ele foi ordenado padre em 1904, e no ano seguinte se tornou secretário do então bispo de Bergamo, Giacomo Maria Radini Tedeschi.
Roncalli passou a acompanhar o bispo em visitas pastorais e colaborou com diversas iniciativas, como os sínodos, redação dos boletins diocesanos, peregrinações e obras sociais. Ele também passou a dar aulas de história eclesiástica no seminário.
Nesse período, ele se aprofundou nos estudos de três gandes pastores: São Carlos Borromeu, São Francisco de Sales e o então Beato Gregório Barbarigo.
Em 1915, com a Itália em guerra, ele foi convocado como sargento do corpo médico e se tornou capelão dos soldados feridos. Com o fim da guerra, ele abriu uma casa para atender às necessidades espirituais dos estudantes.
Em 1919, se foi nomeado diretor do seminário, mas dois anos depois, em 1921, foi convocado para trabalhar para a Santa Sé em Roma.
A pedido do Papa Benedito XV, ele passou a ocupar o posto de presidente nacional do Conselho das Obras Pontifícias para a Propagação da Fé.
Em 1925, já sob o pontificado de Pio XI, Roncalli foi nomeado Visitador Apostólico para a Bulgária, e o elevou para o cargo de titular da Diocese de Areopolis. Neste mesmo ano, foi ordenado bispo.
Ele permaneceu na Bulgária até 1934. No período, visitou as comunidades católicas e promoveu relações com outras comunidades cristãs.
O Papa João XXIII chega à Basílica de São Pedro, no Vaticano, em 11 outubro de 1962, durante a abertura da primeira sessão do Concílio Ecuménico do Vaticano ou Vaticano II (Foto: AFP)O Papa João XXIII chega à Basílica de São Pedro,
no Vaticano, em 11 outubro de 1962, durante a
abertura da primeira sessão do Concílio Ecuménico
do Vaticano ou Vaticano II (Foto: AFP)
Ao sair da Bulgária, foi nomeado Delegado Apostólico na Turquia e Grécia. Na Turquia, a Igreja Católica era muito presente entre os jovens, e Roncalli trabalhou com intensidade no diálogo respeitoso com ortodoxos e muçulmanos.
Ele encontrava-se na Grécia no início da Segunda Guerra Mundial, e salvou muitos judeus com a "permissão de trânsito" fornecida pela Delegação Apostólica. Em 1944, o Papa Pio XII o nomeou Núncio Apostólico em Paris – tornando-se assim o representante da Santa Sé na França.
No fim da guerra, Roncalli ajudou os prisioneiros de guerra e promoveu a volta da vida religiosa na França, visitando santuários e participando de festas populares e manifestações religiosas.
Um de seus destaques era sua simplicidade, mesmo nos assuntos diplomáticos mais complexos. Ele era conhecido por agir como um sacerdote em todas as situações, dedicando sempre um tempo à oração e à meditação.
Em 1953, Roncalli se tornou cardeal pelas mãos do Papa Pio XII. Ele passou a trabalhar em Veneza como Patriarca local. Ali, aprofundou ainda mais seu trabalho como pastor.
Pontificado
Cinco anos depois, com a morte de Pio XII, ele foi eleito Papa no dia 28 de outubro de 1958, adotando o nome de João XXIII. O conclave durou quatro dias e 11 votações.
Durante seu pontificado, que durou menos de cinco anos, ele manteve sua imagem de bom pastor, cordial, simples e atento às necessidades dos cristãos.  No período, ele escreveu oito encíclicas.
Ele é reconhecido por ter permitido a modernização da vida no Vaticano, o rejuvenescimento do Colégio Cardinalício e a intensificação das relações diplomáticas do Pontificado com os líderes políticos mundiais.
Ele estabeleceu relação com os líderes soviéticos e contribuiu para reduzir a tensão entre comunistas e cristãos. Além disso, criou uma Comissão para a Unidade Cristã para tecer laços amistosos com as igrejas protestantes e ortodoxas.
Suas medidas mais conhecidas foram a convocação do Sínodo Romano, a instituição de uma comissão para rever o Código de Direito Canônico e a convocação do Concílio Vaticano II, que promoveu diversas mudanças na Igreja e a preparou para o século XXI.
Por sua proximidade com o povo e sua bondade com os mais pobres, ficou conhecido como o “Papa bom”.
Sua morte ocorreu em 3 de junho de 1963, antes do encerramento do Concílio Vaticano II, em decorrência de um câncer de estômago.

Popular, Papa João Paulo II deixou a Igreja Católica simpática aos fiéis


Pontífice será canonizado neste domingo (27) pelo Papa Francisco.
Ele se torna santo apenas nove anos após sua morte, em 2005

Do G1, em São Paulo

O Papa João Paulo II em 30 de janeiro de 2005 no Vaticano (Foto: Reuters)O Papa João Paulo II em 30 de janeiro de 2005 no Vaticano (Foto: Reuters)












O Papa das multidões, amado e venerado em todo o mundo, responsável por revitalizar a Igreja Católica e torná-la mais simpática aos olhos de seus fiéis. Esta é uma das imagens mais conhecidas de Karol Wojtyla, o Papa João Paulo II, que ficou 26 anos à frente da Santa Sé e será canonizado neste domingo (27) no Vaticano.
Durante seu pontificado, o mais longo do século XX, ele se transformou em uma das personalidades mais emblemáticas das últimas décadas, com influência tanto entre os fiéis católicos como na geopolítica mundial.
O processo de canonização de João Paulo II é um dos mais rápidos da história. Ela teve início um mês após sua morte, em 2005, quando seu sucessor, Bento XVI, dispensou as regras e deu início às investigações da santidade – que em geral só ocorrem cinco anos depois do falecimento.
Para muitos católicos, entretanto, o processo foi demorado – durante seu funeral, após quase 27 anos de pontificado, a multidão reunida no Vaticano gritou "santo súbito".
Os dois milagres de João Paulo II foram comprovados por uma comissão do Vaticano e confirmados por decretos dos Papas Bento XVI e Francisco. Sua beatificação, após a comprovação do primeiro milagre - da freira francesa Marie Simon-Pierre, que alegou ter sido repentinamente curada de mal de Parkinson dois meses após a morte do Pontífice – foi realizada em 1º de maio de 2011, seis anos após sua morte.
Já o segundo milagre foi registrado na Costa Rica, com uma mulher, cuja identidade é mantida em segredo, que diz ter sido curada de um aneurisma cerebral após pedir a intercessão de João Paulo II.
Em 22 de outubro de 1978 o Papa João Paulo II abençoa os fiéis na Praça de São Pedro depois de ser nomeado Pontífice (Foto: Arquivo/AP)Em 22 de outubro de 1978 o Papa João Paulo II abençoa os fiéis na Praça de São Pedro depois de ser nomeado Pontífice (Foto: Arquivo/AP)
Trajetória
Karol Józef Wojtyla nasceu em 18 de maio de 1920 na pequena cidade de Wadowice, na Polônia. Ele era o mais novo de três irmãos. Sua mãe, Emilia Kaczorowska, morreu pouco tempo depois, em 1929. Seu irmão mais velho, Edmund, morreu em 1932, e seu pai em 1941. Sua irmã, Olga, morreu antes de seu nascimento.
Após terminar a escola, Wojtyla foi estudar teatro na Universidade Jagiellonian em Cracóvia, em 1938 – em sua juventude, ele queria ser ator. A ocupação nazista forçou a universidade a ser fechada em 1939. Wojtyla foi então trabalhar em uma pedreira e depois em uma indústria química, onde permaneceu entre 1940 e 1944 para evitar sua deportação para Alemanha.
Em 1942, ele entrou em um seminário clandestino na Cracóvia, onde iniciou seus estudos eclesiásticos. Na mesma época, ele também atuava em um teatro clandestino.
Após o fim da Segunda Guerra, ele retomou seus estudos na Universidade Jagiellonian, onde passou a estudar teologia. Sua ordenação como padre aconteceu em 1946.
Pouco depois, Wojtyla foi enviado a Roma para trabalhar com dominicanos franceses. Ele continuou seus estudos, finalizando um doutorado em teologia em 1948. No mesmo ano, ele retornou à Polônia, onde passou a atuar como vigário em diversas paróquias de Cracóvia até 1951. Mais tarde, passou a lecionar teologia e ética social no seminário e na Faculdade de Teologia de Lublin.
Wojtyla se tornou bispo de Ombi e bispo auxiliar da Cracóvia em 1958.  Em 1964, ele se tornou Arcebispo da Cracóvia. Três anos depois, se tornou cardeal, apontado pelo Papa Paulo VI.
Pouco antes, o então arcebispo Wojtyla participou do Concílio Vaticano II, onde fez uma importante contribuição na autoria da Constituição Gaudium et spes.
Em 23 de abril de 1997, o Papa João Paulo II acena aos fiéis na Praça de São Pedro, no Vaticano (Foto: Andrew Medichini/AP)Em 23 de abril de 1997, o Papa João Paulo II acena aos fiéis na Praça de São Pedro, no Vaticano (Foto: Andrew Medichini/AP)
Pontificado
Wojtyla foi eleito Papa em 16 de outubro de 1978, no conclave que sucedeu a morte do Papa João Paulo I – cujo pontificado durou apenas um mês. Seu pontificado começou no dia 22 de outubro do mesmo ano, sob o o lema "Totus tuus ego sum" ("Todo teu sou eu"), uma frase que o acompanhou durante seus anos à frente da Santa Sé. Ele foi o primeiro papa não italiano desde 1523, e soube utilizar a mídia como nenhum outro na história.
Apesar do perfil popular e conciliador, João Paulo II tinha visões eclesiásticas rígidas, e fez posicionamentos públicos contra o aborto, o controle de natalidade, o uso de camisinhas para evitar a Aids, a homossexualidade, o divórcio, a pornografia, a ordenação de mulheres, a eutanásia e os testes de clonagem humana
Ele também foi muito ativo em relação a assuntos políticos, como as sanções dos Estados Unidos contra o Iraque. João Paulo II reconheceu o Estado palestino e, em 1994, o Vaticano estabeleceu relações diplomáticas com Israel.
Do ponto de vista histórico, seu papel foi considerado fundamental até mesmo na reorganização das fronteiras europeias. Para muitos analistas políticos, ele teve atuação decisiva nos processos de fim da União Soviética e queda da Cortina de Ferro.
Enquanto foi Papa, João Paulo II visitou 129 países e realizou 146 visitas pastorais dentro da Itália. Apenas em Roma, ele visitou 317 das 322 paróquias. Em 4 de outubro de 1995 ele atingiu um curioso recorde: passou de um milhão de quilômetros percorridos.
Em sua primeira visita à Polônia, em 1979, milhões de pessoas foram às ruas para recebê-lo – foi também um momento crucial na política do país.
Ele foi o Papa que teve mais encontros com líderes religiosos e políticos do que qualquer um de seus antecessores. Recebeu várias visitas no Vaticano, como as do presidente da União Soviética Mikhail Gorbachev e a do líder cubano Fidel Castro, encontro que significou o primeiro passo na normalização das atividades religiosas em Cuba.
Mais de 17,6 milhões de pessoas participaram de suas audiências semanais ministradas às quartas-feiras – foram mais de 1160 em quase 27 anos – sem contar outras audiências especiais e cerimônias religiosas. Apenas na comemoração de seus 20 anos de pontificado compareceram 8 milhões de pessoas.
João Paulo II também encorajou o diálogo com outras religiões, principalmente com os judeus, convidados diversas vezes para encontros para celebrar a paz.
Durante seu pontificado – um dos três mais longos da história – João Paulo II escreveu 14 encíclicas, 15 Exortações Apostólicas, 11 constituições apostólicas, organizou 15 assembleias do Sínodo dos Bispos e nomeou 231 cardeais em nove consistórios, além de ter publicado cinco livros.
João Paulo II também teve um grande ímpeto nas canonizações e beatificações, com foco nos exemplos que poderiam incentivar a população ao redor do mundo. Durante seu pontificado, 1.338 pessoas foram beatificadas e 482 declaradas santas, em 51 cerimônias de beatificação.
Wojtyla também demonstrou ao longo de seu pontificado uma grande preocupação com as pastorais, e iniciou a celebraçao da Jornada Mundial da Juventude, que ajudou a atrair milhares de jovens à Igreja.
Papa João Paulo II celebra uma missa de beatificação em 1999 (Foto: Gabriel Bouys/AFP)Papa João Paulo II celebra uma missa de beatificação em 1999 (Foto: Gabriel Bouys/AFP)
Saúde
Logo no início de seu pontificado, em 1981, João Paulo II foi vítima de um atentado – ele foi baleado pelo turco Mehmet Ali Agca, na Praça São Pedro, em meio a 10 mil fieis. O papa estava com uma criança no colo e foi atingido por três tiros. Ele precisou passar por uma cirurgia.
Agca foi preso. Dois anos depois, em 1983, recebeu a visita de João Paulo II na prisão, na qual o Papa manifestou seu perdão.
O atentado afetou para sempre a saúde do Papa. Em 1992, ele retirou um tumor benigno do intestino Em 1994, foram iniciados rumores na imprensa de que ele estaria sofrendo do Mal de Parkinson, o que foi comprovado nos anos seguintes. No mesmo ano, ele colocou uma prótese na perna após uma fratura no fêmur.
Em 1996, o Papa passou por uma cirurgia para a retirada do apêndice. No mesmo ano, surgem rumores sobre um câncer no intestino, negados pelo Vaticano. O Mal de Parkinson, entretanto, já era admitido.  Também houve rumores de que ele sofreria de câncer nos ossos, o que foi negado pela Santa Sé.
Em 2005, dois meses antes de morrer, o papa passou por duas internações de urgência, por dificuldades de respiração.
Ele morreu no dia 2 de abril de 2005, após dois dias de agonia e dúvidas para católicos de todo o mundo. Segundo o Vaticano, a morte ocorreu dentro de seus aposentos no Palácio Apostólico. Seu funeral foi realizado no dia 8 de abril – no intervalo, mais de 3 milhões de pessoas foram a Roma para homenagear o Papa, com filas que chegaram a 24 horas para entrar na Basílica de São Pedro.
Foto de 10 de abril de 2003 mostra João Paulo II em missa na Praça São Pedro no Vaticano (Foto: Massimo Sambucetti/AP)Foto de 10 de abril de 2003 mostra João Paulo II em missa na Praça São Pedro no Vaticano (Foto: Massimo Sambucetti/AP)

De olho em jovens, Igreja celebra canonização high-tech

Vaticano fará transmissão em 3D pela TV e pela Internet da cerimônia que transformará João Paulo 2º e João 23 em santos.

Da BBC

Mirando o público jovem, o Vaticano decidiu recorrer à tecnologia avançada para transmitir a cerimônia de dupla canonização dos papas João Paulo 2º (1920-2005) e João 23 (1881-1958) neste domingo (27).
Além do ineditismo do evento - nunca dois pontífices foram santificados ao mesmo tempo - a Santa Sé também fará, pela primeira vez na história, uma transmissão em 3D pela TV e pela Internet.
Estima-se que cerca de 2 bilhões de pessoas assistirão ao vivo a celebração em todo o mundo, que também será transmitida em salas de cinema, inclusive no Brasil.
O Vaticano lançou ainda uma ofensiva nas redes sociais, com a criação de um site especial para a dupla canonização, de uma página no Facebook e até aplicativos em dispositivos móveis, para celulares e tablets.
Já na Praça de São Pedro, são esperadas cerca de 1 milhão de pessoas. A cerimônia será conduzida pelo papa Francisco e contará com a presença do papa emérito Bento 16, conforme informou o Vaticano.
Telões foram montados pela Prefeitura de Roma em quatro pontos da cidade para que os fiéis possam assistir ao evento.
Segundo o Vaticano, duas relíquias serão usadas na cerimônia: um frasco contendo sangue de João Paulo 2º e outro com pedaço de pele retirada de João 23 no ano de 2000, quando seu corpo foi exumado para a beatificação, declarada quando se reconhece o primeiro milagre.
Cerimônia
A canonização - ao final da qual os dois papas se tornarão santos - está prevista para as 10h (5h de Brasília).
De acordo com o livro litúrgico, a cerimônia tem início com uma série de leituras e hinos que precedem o rito de canonização propriamente dito, que começa com uma oração coletiva na qual os dois papas serão invocados como santos.
Em seguida, haverá três frases em latim com as quais o cardeal Angelo Amato, responsável pela Congregação para as Causas dos Santos - o 'ministério' da Santa Sé encarregado dos processos de canonização - solicita ao Sumo Pontífice que declare santos os dois candidatos.
Francisco responderá com uma declaração padrão em latim ao final da qual dirá: 'Eu o ordeno'.
Nesse momento, o polonês Karol Wojtyla e o italiano Angelo Roncalli se tornarão, oficialmente, santos da Igreja Católica. Em seguida, o pontífice argentino celebrará uma missa.
Dois papas
Conhecido como o 'Papa Bom', João 23 comandou a Igreja Católica entre 1958 e 1963. Nesse período, convocou e deu início ao Concílio Vaticano 2º, uma série de conferências que resultou em documentos sobre os novos rumos da Igreja Católica, com o intuito de aproximá-la do povo e adaptá-la à modernidade.
Talvez mais popular entre os peregrinos, João Paulo 2º ascendeu ao Trono de Pedro em 1978 e lá permaneceu até 2005, quando morreu. Foi o segundo papado mais longo da história e sua canonização foi a mais rápida da história moderna da Igreja.
Segundo vaticanistas ouvidos pela BBC Brasil, a decisão de Francisco de canonizar os dois papas em um único dia seria uma tentativa de preencher o abismo entre duas alas opostas da Santa Sé: os 'tradicionalistas', representados por João Paulo 2º, e os 'reformistas', seguidores de João 23.
Grandes dimensões
Devem participar da dupla canonização cerca de 150 cardeais e bispos e 6 mil padres. O Vaticano divulgou uma lista oficial com autoridades internacionais de 93 países, incluindo 24 chefes de Estado. Nenhum nome do governo brasileiro aparece até agora na compilação.
O único brasileiro é José Graziano da Silva, que, no entanto, representa a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), órgão ligado à ONU sediado em Roma que ele comanda desde janeiro de 2012.
E para atender aos milhares de fiéis que vão lotar a Praça de São Pedro, o Vaticano e a Prefeitura de Roma mobilizaram mais de 2,4 mil policiais, 100 ambulâncias e 2,5 mil voluntários, encarregados de distribuir 4 milhões de garrafas de água e 150 mil livros litúrgicos para que os fiéis possam acompanhar passo-a-passo a cerimônia.
'Noite Branca'
Durante a noite de sábado (26) para domingo, inúmeras igrejas de Roma abriram suas portas para uma vigília de pregações, procissões e confissões no que o Vaticano chamou de 'Noite Branca'.
Em 11 delas, houve uma programação especial em diferentes idiomas, inclusive português. Outras serviram como alojamento para milhares de fiéis que não conseguiram acomodação em hotéis e albergues.
Em frente à Igreja de Santa Inês, centenas deles, de todas as idades, entoaram cânticos em memória de João Paulo 2º.
"João Paulo 2º é uma das pessoas mais importantes da história da Polônia", afirmou a polonesa Rosetta, que veio de Cracóvia acompanhada do namorado.