terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Oito são condenados por tráfico de drogas utilizando crentes e idosos no Rio Grande do Sul


Lucas Azevedo
Do UOL, em Porto Alegre
Oito membros de uma quadrilha que trazia drogas para o Brasil utilizando idosos e crentes como "mulas" foram condenados por tráfico internacional pela Justiça Federal na cidade gaúcha de Lageado (114 km de Porto Alegre), no Vale do Taquari. A sentença foi proferida este mês, e ainda cabe recurso.
O bando, sediado na cidade vizinha de Estrela, transportava maconha e cocaína dentro de fraldas geriátricas de mulheres idosas e outras crentes, com cabelo comprido e bíblia sob o braço. As mulas viajavam em ônibus de linha comuns para não levantar suspeitas.
"Ao utilizar várias pessoas trazendo em pequenas quantidades, o risco de perder esse material é menor. Eram pessoas idosas e vestidas em trajes de igreja que não despertariam a suspeita de quem quer que fosse", comenta o delegado Heliomar Franco, do Denarc (Departamento Estadual de Investigação do Narcotráfico).
A droga vinha das cidades paraguaias de Ciudad del Este e de Pedro Juan Caballero para ser distribuída no Vale do Taquari e na região metropolitana de Porto Alegre. Porém, estava dentro da área de atuação do grupo cidades de São Paulo e também do Rio de Janeiro.
Em 2011, a quadrilha foi desarticulada pela Operação Tapajós, da Polícia Civil gaúcha. Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça comprovaram o esquema e identificaram a função de cada um no bando.
O Ministério Público Federal pediu a condenação de dez pessoas, mas a Justiça aceitou apenas de oito. São elas: Leonel Cristiano da Silva, Gilson Claudir Berghann, Tatiana Sirlei Bergmann, Fábio Júnior da Silva, Maria de Lima Fernandes, Ramona Escobar Gonçalves, Nilsa da Silva Hutt e Rui Agenor Stein Friedrich.  Suas penas variam de quatro a 13 anos de prisão.

Transporte

"No início achávamos que a droga poderia vir de carro, que era o mais comum. Mas verificamos que há uma linha direta de ônibus de Mundo Novo até Estrela", comenta o titular da primeira  delegacia de Investigações do Narcotráfico do Denarc, delegado Mário Souza.
Em novembro de 2011, Leonel Cristiano da Silva foi preso em casa. Ele era tido como gerente do tráfico na cidade e responsável pela distribuição da droga. Foram encontrados nove quilos de maconha escondidos na revistaria que ele possui na rodoviária da cidade. Já em Lajeado, Nilsa da Silva Hutt, 37, era a responsável por recepcionar as mulas vindas do Paraguai.
Durante a investigação, que durou mais de um ano, mulas foram presas em flagrante em rodoviárias ou em casa e indiciadas. "Mas o foco sempre foram as cabeças da quadrilha", revela Souza.
Para o delegado, ao utilizar a estratégia de mulas idosos e crentes, a quadrilha deve ter passado um longo tempo traficando sem ser descoberta. "Tínhamos todos os indícios, mandados de prisão, mas foi muito difícil abordar a primeira senhora idosa", admite Souza.
A reportagem procurou os advogados de defesa dos condenados, mas conseguiu retorno apenas de um. Sérgio Elemar Leonhardt, que representa mais de um preso, afirmou que irá recorrer da sentença. "Houve cerceamento de defesa e não existe nos autos nenhuma prova de materialidade de autoria por parte dos meus clientes. Foram suposições por parte dos policiais, acatadas pelo MP e que rodaram até o juiz. Mas provas não há."

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