domingo, 27 de janeiro de 2013

“Vi pessoas se escondendo dentro de freezers”, diz sobrevivente de incêndio


“Perdi forças porque vi gente pendurada em grades, empilhadas umas por cima das outras”


iG São Paulo 
Um dos sobreviventes do incêndio que matou 232 pessoas na boate Kiss, na cidade de Santa Maria (RS), o personal training Ezequiel Real, usou sua página do Facebook para contar em detalhes como se salvou da morte. De acordo com ele, foi preciso pisotear pessoas desmaiadas e ver pessoas se escondendo dentro de freezers antes de alcançar a saía e mais tarde voltar para tentar socorrer sobreviventes.
“Acompanhei o início do fogo que veio das faíscas do sparkles e se propagou pelo teto nas esponjas do isolamento acústico”, disse. “Não me apavorei porque não achei que poderia lidar com a situação, mas vi muita gente entrar em pânico, cair e desmaiar umas por cima das outras”.
Foto do resgaste de sobrevivente do incêndio que matou mais de 200 pessoas na boate Kiss, que sofreu um incêndio na madrugada deste domingo. Foto: Ricardo Giusti/O Dia
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Ele conta que viu “muita gente em crise” acessando a porta mais próxima, “que era a do banheiro e se alojaram lá dentro. Vi pessoal que trabalhava se escondendo até dentro de freezers! Quando vi que não tinha mais jeito de sair pela saída principal, dei a volta na área Vip e sai pela lateral empurrando e pisando por cima de muita gente, acredito que não sairia se não fosse pela força que utilizei para passar pelas pessoas”.
Ele disse que só ao sair percebeu “que pisava e cruzava por cima de mulheres e homens desmaiados”. “Não vi alarme soando, só gritos. Não vi luz de saída, só fumaça. Quando saí, me passou pela cabeça as pessoas que passei por cima e voltei para retirá-las pois não aguentava escutar berros, ver policias e bombeiros sem dar conta, porque tinha muita gente empilhada. Quando entrei tinha que escolher quem salvar”.
Real conta que não havia saída para a fumaça e, por isso, quem estava envolvido no salvamento começou “a abrir um buraco na parede, arrancar madeiras, grades, janelas”.

“Ao abrir o buraco na parede, um bombeiro me convidou para entrar porque sozinho não conseguiria tirar as pessoas. Entrei e pela primeira vez vi a morte pessoalmente”.
Ele afirma que “logo um enfermeiro pediu para sair lá de dentro, pois tinha risco de desabar. Não acreditei, e ele me mostrou que todos que saiam daí para frente estavam mortos”.
“No primeiro momento em que liguei e foquei a luz na área vip, vi muitos corpos, não sabia mais o que fazer, perdi forças porque vi gente pendurada em grades, vi pessoas empilhadas uma por cima das outras e não era uma ou duas dezenas, era muita gente”, disse. “Imagem que nunca apagarei da minha cabeça, não tive força física para ficar ali e tive que sair derrotado de dentro daquele buraco”.

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