terça-feira, 12 de março de 2013

Dom Odilo queria ser padre desde criança, dizem familiares do RS



Cardeal cotado para ser Papa nasceu em comunidade rural de Cerro Largo.
Familiares mostram a propriedade onde o arcebispo de SP nasceu.

Márcio LuizDo G1 RS, em Cerro Largo
Casa dom Odilo Cerro Largo (Foto: Márcio Luiz/G1)A propriedade onde dom Odilo nasceu em Cerro Largo está abandonada (Foto: Márcio Luiz/G1)
Apontado com um dos favoritos para se tornar Papa durante o conclave que se inicia nesta terça-feira (12), o cardeal brasileiro Dom Odilo Pedro Scherer vem de uma família de pequenos agricultores alemães que emigraram para o Rio Grande do Sul em meados do século XIX. Parentes o descrevem como um homem muito apegado à família, sábio e sereno e que desde criança queria ser padre.
Dom Odilo nasceu em 1949 em Cerro Largo, na Região das Missões, mas mudou-se com os pais ainda criança para Toledo, no Oeste do Paraná. A história da família Scherer no Brasil, no entanto, começou em Alto Feliz, cidade distante cerca de 100 quilômetros de Porto Alegre. Lá, o bisavô de Dom Odilo, Mathias Scherer, se estabeleceu em 1872, quando a localidade ainda pertencia a São Sebastião do Caí, vindo direto da Alemanha. 
José Roque e esposa Dom Odilo (Foto: Márcio Luiz/G1)Leocádia Steffens e José Roque, tios de Dom Odilo,
ainda moram em Cerro Largo (Foto: Márcio Luiz/G1)
De Alto Feliz, os pais de Dom Odilo, Edwino Scherer e Francisca Wilma Steffens Scherer, transferiram-se para Cerro Largo, no começo dos anos 1920. O local escolhido por Edwino para criar os filhos foi a zona rural conhecida como Linha São Francisco, pequena comunidade germânica a cerca de 15 quilômetros da área urbana de Cerro Largo.
Chega-se até a localidade por uma estrada asfaltada estreita e praticamente deserta, rodeada por plantações de soja, trigo e milho, além de campos dedicados à criação de gado. A região ainda abriga familiares de Dom Odilo e é visitada com certa frequência pelo cardeal, atual arcebispo de São Paulo.
Tio de Dom Odilo, José Roque Steffens, 75 anos, é quem mostra a propriedade onde o sobrinho nasceu. Dom Odilo foi o sétimo de um total de 13 filhos, nove homens e quatro mulheres, duas já falecidas. Uma casa de alvenaria substituiu a original, de madeira. A propriedade foi vendida quando a família foi para o Paraná e hoje encontra-se abandonada. Em 2009, recebeu uma visita do cardeal durante uma de suas últimas passagens pela cidade. “Ele sempre dá uma olhada na casa”, conta José.    
Igreja São Francisco Cerro Largo Dom Odilo (Foto: Márcio Luiz/G1)Igreja na comunidade São Francisco erguida com
ajuda de avô do cardeal (Foto: Márcio Luiz/G1)
A família de Dom Odilo mudou-se para Dois Irmãos, distrito de Toledo, no Oeste do Paraná, em 1951, antes de ele completar dois anos de idade. De lá para cá, muita coisa mudou na vila São Francisco, mas algumas permanecem as mesmas. A começar pelos costumes dos moradores locais – a língua alemã ainda é muito usada na comunidade e a religião da grande maioria é a católica.
Para perceber a importância da fé para os moradores da região, basta dar uma olhada na capela da vila São Francisco. Imponente, a igreja local contrasta com a grande maioria das residências, de aparência simples. A igreja foi erguida em 1927. O avô paterno de Dom Odilo, Francisco Scherer, ajudou na construção. O materno, Miguel Steffens, foi sacristão lá durante anos a fio.
  
A fé sempre esteve presente na trajetória da família Scherer. De geração em geração, muitos seguiram a vida religiosa. A tia de Dom Odilo, Andrea Steffens, era madre da Congregação de Santa Catarina, em Novo Hamburgo (RS), até morrer recentemente. Seu primo, Dom Irineu Roque Scherer, é o atual bispo de Joinville (SC). O sobrinho, Leo Konzen, é padre em Santo Ângelo (RS). Outro parente, Ignácio Scherer, também é sacerdote em Toledo (PR).
Quando criança, já em Toledo, Dom Odilo muitas vezes preferia brincar de padre a jogar futebol com os amigos. Quem conta é a tia Leocádia Steffens, 77 anos, que visitava os parentes com frequência na cidade paranaense. “Ele dizia: ‘Hoje nós vamos fazer uma coisa diferente, vamos brincar de missa”, conta a esposa de José Roque. Dos 13 irmãos, no entanto, só Odilo optou pelo sacerdócio. Os outros se formaram médicos, engenheiros, agrônomos, entre outras profissões.
Dom Odilo e os primos Lauro e Marlete  (Foto: Arquivo Pessoal)Dom Odilo e os primos Lauro e Marlete em encontro
com a família em 2009 (Foto: Arquivo Pessoal)
Roque lembra com detalhes o dia em que o irmão, Edvino, partiu com a família em busca de uma vida melhor no Paraná. Com muitos filhos, ele buscava terras mais vastas, onde pudesse ampliar a plantação. Saiu em comboio formado por dois caminhões Ford F-5, com a família na carroceria ao lado dos mantimentos, dois bois, um cavalo e aves. “As estradas eram de chão batido e os caminhões sempre atolavam no barro. Fizeram quatro travessias de balsa e demoraram 20 dias para chegar lá”, conta.
Mesmo antes de se tornar padre, Dom Odilo viajava sempre que podia para visitar os parentes em Cerro Largo, pelo menos uma vez por ano. As viagens seguiram frequentes até os anos 1990, mas foram diminuindo conforme ele foi ganhando posições na hierarquia na Igreja Católica e as responsabilidades foram aumentando, dizem os familiares. 
Em 2007, ele foi a Cerro Largo receber uma homenagem de cidadão ilustre entregue pela Câmara de Vereadores. Rezou uma missa na capela de São Francisco e participou de um encontro com familiares aberto à comunidade, que lotou a associação cultural do bairro. “Havia muita gente nesse encontro, muitos parentes, sobrinhos, conhecidos, querendo falar e tirar fotos com ele. Ele se manteve sereno todo o tempo, atencioso com as pessoas. Teve a delicadeza de passar de mesa em mesa para conversar, sempre sorridente”, recorde Marlete Gut, casada com um primo de Dom Odilo e integrante da comunidade paroquial da cidade. 
Em 2009, já nomeado cardeal e arcebispo de São Paulo por Bento XVI, a quem agora pode suceder como papa, Dom Odilo celebrou uma missa que lotou a Igreja da Matriz. Ele teria ido à cidade em outubro de 2011. Apesar de temerem que a possível nomeação como papa torne as visitas cada vez mais raras, familiares não têm dúvidas: querem vê-lo no trono de São Pedro. “Seria uma honra para a família, para o município e para o Brasil inteiro. Estamos todos torcendo por isso. Se ele for eleito, tenho certeza que vai fazer um bom trabalho”, afirma o primo, Lauro Bieger, 50 anos.
Pisagem Vila São Francisco em Cerro Largo Dom Odilo (Foto: Márcio Luiz/G1)Paisagem da comunidade rural de Linha São Francisco, em Cerro Largo (Foto: Márcio Luiz/G
1

Nenhum comentário:

Postar um comentário

COMENTE NOSSAS POSTAGENS