quarta-feira, 20 de março de 2013

O Brasão do Papa Francisco










Os brasões de pessoas, famílias, cidades, instituições têm uma linguagem especial, nem sempre perceptível para quem não cultiva essa tradição. Deixando de lado o que é mero exercício de vaidade ou exibicionismo, a heráldica, através de símbolos, cores, frases, emitem mensagens, comunicam convicções, realçam urgências, pregam valores.
É com essa intenção que os bispos e abades, a partir da idade média europeia, costumam apresentar seus programas de vida e ministério.
O atual sumo pontífice que, antes e tudo, é o bispo de Roma, conservou basicamente, o escudo que ele já possuía como bispo na Argentina, que é um resumo de sua vida. O escudo é encimado não mais pelo chapéu episcopal ou cardinalício, mas pelo símbolo da dignidade pontifícia, a mitra (e não a tiara, como chegou a constar do escudo e uso de outros papas), entre as chaves (do Reino dos céus), que recorda o poder dado por Jesus a Simão Pedro, após sua confissão na messianidade de Jesus (cf. Mt 16,13ss).
Chama a atenção que o Papa Francisco não abre mão de recordar que é um jesuíta, conservando o emblema da Companhia de Jesus (SJ), isto é, um sol com as primeiras letras, maiúsculas, do vocábulo “Jesus” em língua grega (IHS). Mas este emblema foi primeiramente elaborado pelo franciscano São Bernardino de Siena (1380-1444), conhecido como “o Pregador do Povo”, para demonstrar seu entranhado amor pelo Salvador.
Duas outras ilustrações realçam no escudo pontifício as devoções do Papa Francisco: a Virgem Maria, Mãe de Jesus e da Igreja, simbolizada pela estrela; e São José, apresentado iconograficamente pela flor de nardo. São José, em cuja festa litúrgica (19/3) o Papa quis dar início ao seu pontificado, é o Padroeiro da Igreja no mundo inteiro.
A maior expressão do escudo do Papa Francisco vem, sem dúvida, da frase que ele escolheu como brado de evangelização: miserando atque eligendo. Em língua latina a expressão assim se entende: “Olhou-o com misericórdia e o escolheu”. Não é uma citação bíblica explícita, mas é uma referência ao Evangelho de Mateus (9, 9-13), comentado por um erudito beneditino inglês, São Beda, o Venerável (672-735).
São Mateus era publicano, coletor de impostos, pouco apreciado pelos judeus que tinham sua terra ocupada pelos romanos. Não obstante, Jesus não faz acepção de pessoas, afirmando que não são os saudáveis que precisam de médico, mas sim os em enfermos, concluindo com um pensamento (cf Oseias 6,6) que resume toda a novidade da sua pregação: “Misericórdia eu quero, não sacrifícios”. A misericórdia com que Jesus envolveu o discriminado Mateus fez dele um eleito da Nova Lei, um fiel discípulo e pregador da Palavra de Deus.
Não seria imprudente pensar que Papa Francisco está a nos dizer: a minha pregação quer ser igual à de Jesus; não quero me ater às discriminações e às marginalizações, não quero ser um prolongador de exclusões, não pretendo ser arauto de uma religião a exigir vitimismos do povo; quero apregoar o que há de mais importante para a Igreja testemunhar ao mundo: a misericórdia de Deus.

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