Ieda Ribeiro de Souza falou por duas horas e pediu aos jurados criarem "empatia" pelos acusados. Ela pediu ainda que condutas sejam individualizadas
Com três horas para serem usadas em defesa dos 26 PMs acusados pela morte de 15 detentos durante a invasão ao Carandiru, a advogada Ieda Ribeiro de Souza pediu aos jurados que não julguem a tropa como um todo, mas que criem "empatia" e busquem "individualizar a conduta". O pedido vai contra a tese da acusação , explicada horas antes pelo promotor Fernando Pereira da Silva. Para ele, a conduta criminosa partiu de policiais que formavam um grupo e que "como tropa possuem ação coletiva".
Nos primeiros momentos de sua fala, a defensora buscou humanizar o conceito de soldados da Polícia Militar, tratados por ela como "seres invisíveis". "Me penitencio e me desculpo porque nem sempre se entende o papel do PM. A sociedade não os respeita. Me penitencio e me desculpo porque eu faço parte dessa sociedade", disse. Nesse momento, o capitão Ronaldo Ribeiro dos Santos ficou emocionado e chorou. Ieda continuou: "Os meus heróis não morreram de overdose. Eles estão aqui [no banco dos réus]. E vou dizer aos senhores quem são eles".
Ao pedir a individualização dos crimes, Ieda ironizou com um situação que poderia ocorrer no dia a dia. "Pedir que sejam julgados juntos seria como se eu entrasse em uma sala e presenciasse os senhores [jurados] falando mal do juiz. Aí eu chego e falo: 'O juiz, eles estavam falando mal de você'. Quem foi? Ah, não sei. Então condena todo mundo'. É loucura". Segundo ela, os réus presentes no plenário confessaram que atiraram mas, por não saber quem eles atingiram, inviabilizaria uma culpabilidade em massa. "Pelo menos 330 oficiais entraram e por que estou julgando 79?".
Ataques e descredibilidade
Após duas horas de explanação, os jurados ouviram inúmeros ataques à imprensa e às testemunhas que foram ouvidas durante os seis dias de julgamento, como ao perito Oswaldo Negrini e a Moacir dos Santos, diretor de Segurança e Disciplina do complexo, por exemplo. Segundo Ieda, que recusa o termo "massacre", Negrini tratou o caso como "divulgação pessoal" e passou informações exageradas aos jornalistas.
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"Sangue até a canela? Ele disse que foi uma forma de expressão. Eu digo que foi divulgação pessoal". Já sobre Moacir, ela citou que suas falas buscaram esconder "sua incompetência e até conivência" com a entrada de objetos perigosos, como armas de fogo, no presídio. Nesse momento, ela faz a leitura de um ofício do sindicatos de agentes do sistema prisional, com data de 1990, pedindo ao governo do Estado uma operação pente-fino nas cadeias. "Ali [no Carandiru] já foram encontradas granadas e drogas. E não haveria armas de fogo?", acrescentou.
A defensora buscou também desconstruir o conceito de 'fraude processual' usado pelo Ministério Público. Segundo ela, "que viveu os anos 1992", a falta de tecnologia e realidade da época contribuíram para a má investigação do caso. "Eu vivi os anos de 1992. Esses dois aí não", disse Ieda atacando os promotores Márcio Friggi e Fernando Pereira da Silva. "Com a falta de credibilidade nas provas, resta aos promotores apresentar aos jurados livros e contos, onde todas as histórias têm a versão dos presos."
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