sábado, 20 de abril de 2013

Defesa chama réus de 'heróis' e diz que PMs não devem ser punidos como tropa



Ieda Ribeiro de Souza falou por duas horas e pediu aos jurados criarem "empatia" pelos acusados. Ela pediu ainda que condutas sejam individualizadas

Carolina Garcia e Renan Truffi - iG São Paulo |
Com três horas para serem usadas em defesa dos 26 PMs acusados pela morte de 15 detentos durante a invasão ao Carandiru, a advogada Ieda Ribeiro de Souza pediu aos jurados que não julguem a tropa como um todo, mas que criem "empatia" e busquem "individualizar a conduta". O pedido vai contra a tese da acusação , explicada horas antes pelo promotor Fernando Pereira da Silva. Para ele, a conduta criminosa partiu de policiais que formavam um grupo e  que "como tropa possuem ação coletiva".
Jornalistas esperam informações sobre a sequência do julgamento, nesta quarta-feira, em frente ao Fórum Criminal da Barra Funda. Foto: Carolina Garcia
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Nos primeiros momentos de sua fala, a defensora buscou humanizar o conceito de soldados da Polícia Militar, tratados por ela como "seres invisíveis". "Me penitencio e me desculpo porque nem sempre se entende o papel do PM. A sociedade não os respeita. Me penitencio e me desculpo porque eu faço parte dessa sociedade", disse. Nesse momento, o capitão Ronaldo Ribeiro dos Santos ficou emocionado e chorou. Ieda continuou: "Os meus heróis não morreram de overdose. Eles estão aqui [no banco dos réus]. E vou dizer aos senhores quem são eles".
Ao pedir a individualização dos crimes, Ieda ironizou com um situação que poderia ocorrer no dia a dia. "Pedir que sejam julgados juntos seria como se eu entrasse em uma sala e presenciasse os senhores [jurados] falando mal do juiz. Aí eu chego e falo: 'O juiz, eles estavam falando mal de você'. Quem foi? Ah, não sei. Então condena todo mundo'. É loucura". Segundo ela, os réus presentes no plenário confessaram que atiraram mas, por não saber quem eles atingiram, inviabilizaria uma culpabilidade em massa. "Pelo menos 330 oficiais entraram e por que estou julgando 79?".
Ataques e descredibilidade
Após duas horas de explanação, os jurados ouviram inúmeros ataques à imprensa e às testemunhas que foram ouvidas durante os seis dias de julgamento, como ao perito Oswaldo Negrini e a Moacir dos Santos, diretor de Segurança e Disciplina do complexo, por exemplo. Segundo Ieda, que recusa o termo "massacre", Negrini tratou o caso como "divulgação pessoal" e passou informações exageradas aos jornalistas.
"Sangue até a canela? Ele disse que foi uma forma de expressão. Eu digo que foi divulgação pessoal". Já sobre Moacir, ela citou que suas falas buscaram esconder "sua incompetência e até conivência" com a entrada de objetos perigosos, como armas de fogo, no presídio. Nesse momento, ela faz a leitura de um ofício do sindicatos de agentes do sistema prisional, com data de 1990, pedindo ao governo do Estado uma operação pente-fino nas cadeias. "Ali [no Carandiru] já foram encontradas granadas e drogas. E não haveria armas de fogo?", acrescentou.
A defensora buscou também desconstruir o conceito de 'fraude processual' usado pelo Ministério Público. Segundo ela, "que viveu os anos 1992", a falta de tecnologia e realidade da época contribuíram para a má investigação do caso. "Eu vivi os anos de 1992. Esses dois aí não", disse Ieda atacando os promotores Márcio Friggi e Fernando Pereira da Silva. "Com a falta de credibilidade nas provas, resta aos promotores apresentar aos jurados livros e contos, onde todas as histórias têm a versão dos presos."

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