quarta-feira, 1 de maio de 2013

'Tentavam roubar a moto desde janeiro', diz viúva de empresário



Mulher acusa policiais de omissão por não registrarem caso em SP.
Marido dela teve moto roubada na terça e foi morto com um tiro.

Kleber TomazDo G1 São Paulo

“Acho que os assaltantes que mataram meu marido tentavam roubar a moto desde janeiro”, disse Cristiane, viúva do empresário Fernando Guerreiro Abdalla.

Ele foi assassinado na noite de terça-feira (30) com um tiro após ter sua Yamaha Ténéré XTZ 250 cc, avaliada em cerca de R$ 13,5 mil, levada por dois criminosos. Os bandidos usavam capacete e estavam em outra motocicleta.

O crime aconteceu na frente da academia Alto Astral, que ele tinha em sociedade com a mulher, na região da Freguesia do Ó, na Zona Norte de São Paulo.
O caso foi registrado como latrocínio (roubo seguido de morte) no 72º Distrito Policial, na Vila Penteado. Até o meio-dia desta quarta-feira, nenhum criminoso havia sido identificado ou preso. A Polícia Civil procura câmeras de segurança na Estrada do Sabão, na Vila Brasilândia, usada como rota de fuga pela dupla.

Cristiane Cruz Abdalla não estava no local, mas ouviu de testemunhas que seu marido não teria reagido ao assalto. Demonstrando indignação, ela acusou, na manhã desta quarta-feira (1°), policiais militares e civis de omissão no início deste ano, quando Fernando os teria procurado para denunciar uma tentativa de assalto que havia sofrido.
Cristiane Abdalla, viúva do empresário morto na frente da academia (Foto: Kleber Tomaz / G1)Viúva de empresário reclama da polícia (Foto:
Kleber Tomaz / G1)
Omissão
“Há quatro meses, ele havia feito a denúncia aos PMs e para um delegado no 45º DP [Vila Brasilândia] logo depois que dois homens numa moto tentarem roubar a Ténéré dele. Ele estava sozinho e os bandidos mostraram a arma e disseram: ‘Perdeu, playboy!’ Mas desistiram do roubo depois de terem visto a viatura da PM. Fernando, então, falou para os policiais militares irem atrás dos criminosos, mas não foram. Depois, na delegacia, não registraram boletim de ocorrência porque falaram que se nada foi roubado não havia crime”, criticou Cristiane.

“Talvez nada disso teria acontecido se tivessem dado atenção ao meu marido e ido atrás dos bandidos ou feito a queixa. Fernando poderia estar vivo e os criminosos, presos. Acho que quem matou o meu marido deve ser o mesmo grupo que tentou roubá-lo em janeiro. Se não for o mesmo, deve ter ligação com o bando”, lamentou a viúva.
Procurada para comentar o assunto, a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo informou, por volta das 14h, que "o delegado Reynaldo Peres, titular do 45º Distrito Policial (Vila Brasilândia), esclarece que é seguida a orientação do Decap (Departamento de Polícia Judiciária da Capital) para que todas as ocorrências policiais sejam registradas, independentemente se o crime for tentado ou consumado".

Segundo a secretaria, "neste caso, seria necessário que a esposa informasse a data do ocorrido para que medidas administrativas fossem aplicadas aos policiais que, de acordo com ela, não registraram o boletim de ocorrência. A Polícia Civil orienta que se, por acaso, o boletim de ocorrência não for registrado, a vítima deve procurar o delegado titular em outra ocasião ou a Corregedoria da Polícia Civil."
Cristiane e Fernando estavam casados há seis anos e tinham dois filhos. “Um menino de 2 anos e outro de 4. E agora? O que vou falar para os garotos? Como vou dizer que mataram o pai deles?”, indagou a viúva, que deverá sepultar o corpo do empresário no Cemitério de Congonhas, na Zona Sul. O velório deve ocorrer nesta quarta, e o sepultamento, provavelmente, na quinta-feira (2).
'Luto' escrito em folha de papel afixada à porta da academia do empresário (Foto: Kleber Tomaz / G1)'Luto' escrito em folha de papel afixada à porta da
academia do empresário (Foto: Kleber Tomaz / G1)
Sonho
Ela contou que a academia era um sonho do casal que estava sendo realizado depois de Fernando ter tido outra tragédia na família. “Há seis anos, o irmão dele havia sido assassinado num assalto”.

Alunos de Fernando contaram à equipe de reportagem que a própria academia já tinha sido alvo de ladrões há dois anos. “Tentaram furtar os equipamentos, mas não conseguiram”, disse a designer Zelita Ramos Ferreira, que ouviu da sua casa o disparo que atingiu o empresário. “Quando cheguei aqui, ele não falava nada, estava agonizando e me olhando”.
No 72º DP, policiais civis aceitaram falar sob a condição de anonimato. Segundo eles, Fernando estava se separando de Cristiane, estaria dormindo na academia, e no dia em que foi morto estaria indo pegar roupas dele na residência da mulher.
De acordo com o boletim de ocorrência registrado na delegacia, um dos alunos viu o momento em que os assaltantes abordaram o empresário na frente da academia. Segundo a testemunha, que também é policial militar, ele viu Fernando com as duas mãos para o alto e os criminosos usando capacetes e apontando as armas para a vítima.
Segundo o PM, a dupla estava numa motocicleta e queria a Ténéré de Fernando. Em seguida, quando retornou ao estabelecimento, ouviu um disparo e viu o professor caído. Os bandidos fugiram nas duas motocicletas: a que usavam e a do dono da academia.

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